sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Promessas de vida



Ela não sabia jogar. Nunca fora boa nisso. Sempre muito crédula na bondade das pessoas... Foi traída diversas vezes (todas as vezes). Fez tantas promessas soluçando com a cabeça no travesseiro. Decidiu que iria jogar. E até entrava no jogo, mas não sabia nele continuar. Perdeu a paz. Desistiu de jogar. E nenhuma promessa foi cumprida. A não ser a última: o jogo não era sua vocação. Os carros todos pararam. As gentes todas se perguntavam diante do corpo estirado no chão.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Meditação



Amanhã eu vou despertar cedo para ver o sol nascendo
E refletindo nas águas do meu rio.
Vou me banhar de sol e dourar as minhas águas.
Saberei que vivo
Sem haver tempo, nem espaço.
Serei apenas um ser rendido
Dado ao prazer de me dobrar ao grande astro.

Condição





O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte (Nietzsche)

Chão de estrelas



Neste chão onde nascem estrelas
Eis que nos céus despontam as flores
Daí, então,  não há noite ou primavera
Que não brinquem com as minhas dores

Hoje é o primeiro dia da estação
Que me traz saudades de ser flor
Porque um dia assim eu fui
E hoje não sei mais quem sou.

Distante das luzes da cidade
O céu me presenteia...
Por que não param de brilhar,
E de me chamar, oh, Estrelas?!

Tão perto do céu e da terra
Eu faço silêncio para que ouçam
Meu coração fraquinho batendo
Pedindo afago e repouso

Sou um ser apaixonado
Do meu corpo a alma desprende
Só o amor é capaz de confiar
Que flores e estrelas também sentem...

domingo, 25 de setembro de 2011

Minha herança: uma flor




Minha Herança: Uma Flor

Vanessa da Mata

Achei você no meu jardim
Entristecido
Coração partido
Bichinho arredio
Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim
Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei
Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência
Sempre
A minha herança pra você
É uma flor com um sino, uma canção
Um sonho, nem uma arma ou uma pedra
Eu deixarei
A minha herança pra você
É o amor capaz de fazê-lo tranqüilo
Pleno, reconhecendo o mundo
O que há em si
E hoje nos lembramos
Sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza estava juntando
Você e eu
(2x)

Jardim particular


Temos um jardim fora de nós.
Dentre tantas flores que cultivamos, 
apenas uma é a que podemos oferecer 
a outro jardineiro (que não nós mesmos): 
A flor vermelha. 
Ela está lá. 
Estou cuidando da terra que abriga suas raízes, 
Olhando-a, regando-a, para colhê-la
Quando eu receber a flor que me prometeu.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011


A rua é tão deserta, sem teus passos que não caminham para mim...
Em outros caminhos encontrarei tuas mãos?





Lírio



Lírio,
Teu lírico delírio
Me deixa a flor da pele:
- Flores a mil!
Me visto de lírios - orientais, asiáticos
E descubro a pureza
Que liricamente me faz amar
A vida.

Divisão de classes



Gato na varanda

Da casa do ipê cor de rosa
Nunca vi mais dengo, mais prosa
A moça debruçada na janela
Enquanto o operário descia a ladeira.

Trabalho árduo até às seis
Quando a lua e a menina mais uma vez
Ficam na varanda
Com olhos que acompanham
Cada passo que ele dá.

A distância da lua à Terra
Parece ser a mesma da janela pra rua
Por que não desce as escadas?
Por que não sobe a ladeira?

Tem mais pedras e percalço
Entre a casa do primeiro andar
E o casebre no alto do morro
Do que se possa imaginar...

Tem mais servidão à ordem das coisas
Do que à condição de amar!
Dentro dos corações impera:

Cada moça em sua janela,
Cada operário em seu lugar!

Por quê?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011



O poeta não tem asas
Mas os pássaros vêm busca-lo
e o levam aonde nunca havia pensado ir

Sarita



"Ninguém pode julgar o que acontece dentro dos outros"

Preciso dizer que andei avulsa
Que andei tardia
Pelas noites que ia
Do amor, expulsa.

Preciso dizer que andei vadia
Que me causei repulsa
Pelos beijos que daria
Em tantas bocas, confusa.

Preciso dizer que me vistia
Do vestido mais curto
E pintava os olhos de preto

Pra não dizer que tinha medo
De ser pelo amor negada
E permanecer do amor, segredo.

Para tentar encontrar minha alma
Em um corpo que não era o meu.



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um trem para as estrelas - Cazuza


Cinema, música e poesia são um casamento perfeito para a nossa necessidade de arte e beleza: Um trem para as estrelas - música e poesia de Cazuza e também o título do filme de Cacá Diegues (1987): O jovem saxofonista Vinícius passa por diversas experiências pelas ruas do Rio de Janeiro enquanto procura por sua namorada desaparecida, após uma noite de amor. Durante essa busca, ele vivencia, pela cidade, violência, miséria e injustiças, sempre envolvido pela música.

Não assisti ao filme ainda, mas tá na minha lista por causa dessa música que eu amo demais! 

Pra você se encantar como eu: 

Um Trem Para as Estrelas

São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

Cazuza

Cavaleiro sem armadura


Hoje eu sou o cavaleiro
Sem mancha
Sem mágoa
Minha armadura descansa.

Não, não cansei de lutar.
Apenas me permito ser mais leve
Numa vida que me leve
Livre!

Das amarras e das armas
De me defender e de guerrear
Aos canhões, as flores.
À escuridão, o brilho das estrelas

Feridas são curadas
E a vida não pode ser medo de morrer!
Mais bonito que a dor
É ver a vida renascer, e viver. Reviver!


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Eu ando tão Cazuza...



Eu ando tão só por andar
Eu ando sem sair do lugar
Dou voltas no caminho sem direção
Eu sou, não sou: O sim e o não!
Minha platéia me assiste inerte - Pela internet
Me aplaude sem entender o que eu digo
E acha que conhece meu coração...
Nem eu sei o que se passa nesta caixa fechada
Jogada as chaves fora
Deste tesouro não há guardião!

Eu ando tão exagerada
Roubando flores das calçadas
E fazendo promessa que não se cumprirão...
Eu ando confusa, tô meio Cazuza
Da vida, poeta!
Das noites secretas, o que se esconde na escuridão
Dos becos, os ecos
Dos guetos, o ethos
O éter, o ópio e o grito
De independência
Da obediência de ser línear.

Eu tô me desconstruindo
E sou os tijolos que sobraram
Por isso que eu ando tão...
Cabeça feita seguindo viagem na contramão
O que importa é não parar e nem mesmo ter que chegar
Mas ser feliz sem ter que ter razão

Camila Paula, ops, Macabéa de La Mancha

Borboleta


Posso ainda ser casulo,
Mas vislumbro todas as cores
das asas que me darei!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carta I


Ao amor ocupado:
Que saudades eu tenho de quando você me escrevia... Hoje, quando da sua distância, por causa das suas tantas tarefas, eu me valho dos papéis antigos escritos com suas letras ‘garranchais’ que me contavam coisas bonitas e coisas banais, e me sinto afagada por tão boas lembranças – como estivesse em uma tarde de um dia qualquer, parecendo domingo, deitada em teu colo em algum canto de Guaramiranga: sorrindo com um vento gostoso a tocar nossos corpos e nossas almas – do que vivemos e pela esperança de vivermos outros momentos inesquecíveis (como a sensação que te descrevo).
Eu sei: nem você é mais este menino, eu, já não, a mesma menina, nem o nosso amor é o mesmo – crescemos todos: somos adultos. Mas o amor fica velho? Pergunto. Precisa ele (o amor) perder o brilho adolescente da descoberta e o calor do desejo? Precisa o amor ter o mesmo tempo do tempo que corre? Existe uma fórmula para manter o sentimento - que une duas pessoas - sempre ‘em forma’? Em ‘forma’ de quê mesmo?
Não quero um amor caduco e cheio de razões de ser. Quero um amor que simplesmente não traga em si motivos, mas, necessidades de existir. Eu preciso de um amor fora do tempo real, sem ‘forma’, intenso, multicolor, com gosto de pudim-doce de leite, e sensações das mais diversas, porque é para isto que existe o amor - para colorir, dar gosto, para transcender tudo o que é: “O amor é a força mais potente e mais sutil que há no mundo” (Gandhi).
             Vamos rebuscar o amor feliz e jovem que guardamos nas gavetas e caixas de lembranças.

Colheita


A., sem pressa, colhe o que é teu: Tua dor. Não te enganes com os frutos deste cultivo: Eles não apodrecem e caem. Só você pode tomá-los, e dar-lhes o seu devido lugar dentro dos compartimentos de sua existência. Estes frutos - como diz - malditos: não são jogados fora - De forma alguma! Pertencem à você. Saiba onde guardá-los - sem angústia. Deixe-os num lugar claro e limpo, Onde possas vê-los bem.
És louco, poeta? Me perguntas. Ao passo que te respondo: Se engana quem esconde de si os benefícios da dor:

Não há ferida que não se cure,
E não há alegria que perdure
Sem conhecer o dissabor.

Com isto, espero que entendas: Teu fruto não é maior, nem mais amargo. Nem mais pesado, nem mais difícil: São os teus olhos e tua balança que determinam a equivalência do fruto. Basta que semeies e cultives outros pomares, e os frutos diversos saboreie. Afinal, não queres, e nem vais, perder tudo o que cultivaste por causa de um só pomar. Que espécie de agricultora é você?

Nós somos a terra.
Nossa terra não vem pronta:
Aramos, adubamos...
Preparamo-nos a vida inteira para o plantio.
Semeamos, regamos e colhemos.
Quando o pomar deu o que tinha de dar,
Recomeçamos.
Eu sei, é um trabalho árduo!
Que seja.
Todo início é precedido de um fim
Todo fim implica um recomeço.
E ao final das contas, a gente sempre sobrevive
Da colheita.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Lágrimas



O que me virá das nuvens
Que habitam o céu azul:
Será o teu verso aberto,
Ou teus impropérios crus?

Se for chover, avisa-me
Antes, o firmamento acinzará.
Não quero aparar aos baldes
O que das nuvens me virá...


Liberta-me de teus encantos
Límpidos e celestiais
Chover já não precisa...
Derramei lágrimas demais

Não quero aparar aos baldes
Os desgostos desta condição:
Amar e não receber de volta
Amor com mesma devoção...

Porque preciso ouvir de tua boca a previsão
Se creio eu já saber a respota?
Junto coragem pra te surpreender:
Vestir a capa, as botas, e bater a porta!

domingo, 11 de setembro de 2011

Porque eu sei que é amor - Titãs


Algumas músicas falam por si só o que a gente sente...
Valeu, Titãs!

Porque eu sei que é amor

Porque eu sei que é amor

Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova

Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar (2x)

Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta

Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo

Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar (4x)

Porque eu sei que é amor (3x)

http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=v6h6Hpie7Ao#t=135s


Discórdia


A cada trago
Um estrago
De sua baforada
Me distancio
Não acenderei teu cigarro
Disto, eu não compartilho!

Não te vejo por trás da fumaça
Que você, não sei por que, reproduz
E a mim, onde será que me vejo,
Sem ter sabor no teu beijo?
Que não tem o mesmo sabor:

Dos tratos que fizemos entre nós mesmos
De ter os mesmos desejos,
Na vida seguirmos juntos?
Não comungamos mais...
Não acenderei teu cigarro!

Seremos outros a cada vez que acender
A discórdia entre os dedos
E isto, faz, sim, diferença:
Longe ou em minha presença,
Acredite: Não somos mais um.

Pertinência


Acordei no meio da noite
Sentindo-me um homem despido
De pensamento perdido
Procurando encontrar o habitante
Que estivesse a velar meu sono
Enquanto eu não estivesse em mim

Aquele homem era
Fruto de meu trabalho?
Resultado de minhas ações?
Ou um ser inacabado
De tijolos-dúvidas
Estrada-multidireções?

Aquele homem era
O operário ou o patrão?
O herdeiro ou o mendigo?
O herói ou o bandido?
E a estas tantas questões,
O que responderei?

Que partido tomarei,
Se sou homem partido?
A mim basta saber
Se sou opressor ou oprimido
E agir livremente
Na condição que me couber.

Se for pra transgredir
Que seja a hipocrisia e o medo
"Vejo agora em parte
Mas, então, veremos face a face"
O que nos é credo universal: O amor
A resposta que revela o segredo.

Acordado no meio da noite
Aquele homem era eu
Esperando que o sono chegasse
E que meus outros eus voltassem
Pro ponto de partida:
Meu corpo, minha vida.

E da próxima vez que me investigar
Que tantas preocupações
Não me confundam a consciência:
Sou o homem dentro e fora de mim
Se não me perco da essência
E da pertença à liberdade!

domingo, 4 de setembro de 2011

O Homem do Futuro



O anjo protetor do cinema brasileiro existe e ouviu minhas preces! Finalmente uma comédia romântica com ritmo, beleza e criatividade nacionais: o filme de Cláudio Torres com Vagner Moura e Alinne Moraes tem um roteiro muito bem elaborado e um enredo bastante envolvente, cheio do - apesar do - paradoxal, engraçado sem ser apelativo (como as imitações das comédias norte-americanas que temos visto ultimamente no nosso cinema), sutil e reflexivo.

João/Zero (Vagner Moura) é um homem medíocre - amargo, infeliz, que faz as coisas só por fazer; e genial - cientista inventivo que 'sem querer' desenvolve umas das coisas mais sonhadas pela humanidade: a máquina do tempo. Nesta máquina se transporta exatamente para o dia 'divisor de águas' em sua existência - quando foi humilhado em uma festa da faculdade e perdeu a mulher que amava, Helena (Alinne Moraes). Para que no futuro não viesse a se tornar o cara medíocre que era, com valores totalmente distorcidos, Zero resolve 'ajudar' João (seu eu no passado) a não passar pelo sofrimento que o transformara em um 'fracassado' e possa, assim, ficar para sempre com Helena.
Qual não é a surpresa do João quando descobre que seu plano 'perfeito' piorara e muito o 'seu eu' e a vida das pessoas que ele mais amava. É aí que percebe a burrada que fizera - alterando o passado se tornara um homem infinitamente mais medíocre- sem caráter.
Nas idas e vindas para consertar erros passados, os vários Joãos se encontram (aplausos de pé para Vagner que soube mostrar evidentemente os difrentes eus da personagem) e se confrotam para fazer o que é melhor para si. Do filme, as reflexões e as compreensões são de que: primeiro: o que nós somos hoje não é simples consequência do que nos aconteceu no passado, mas da forma como enxergamos os fatos; segundo: a nossa dor não é a mais doída, a mais sofrida do mundo - sofrer faz parte da vida, assim como sacudir a poeira e buscar o melhor para nós - sem mágoas e sem ódio; e terceiro: sabendo que não é possível mudar o passado devemos sair de nosso comodismo e procurar mudar o presente - este sim, é o nosso próprio tempo como disse Renato Russo em Tempo Perdido (Música que costura o enredo do Homem do Futuro), e é neste tempo, o nosso, que podemos e devemos MUDAR O MUNDO!
A música do Renato parece que foi composta para o filme e é o que nos faz viajar e 'comprar' a aventura proposta pelo diretor. A compreensão do Renato é muito além - se pararmos pra pensar.
Mas como nem tudo é perfeito... Bem particularmente, para mim, o filme é 95% - o final distorce a ideologia impregnada na trama todinha... :/ Mas tá valendo!
No mais, só assistindo pra se deliciar com a interpretação, a trilha e as reflexões colocadas no filme. #SuperRecomendo.

sábado, 3 de setembro de 2011

Efeito borboleta

Enquanto dorme
Seu sono
Inconsciente
Minhas mãos-borboletas
Confidentes
Passeiam
Pelos sonhos
Que povoam
O seu jardim-coração.

Bato as asas
Acordas.
Sou tufão.