quinta-feira, 26 de maio de 2011

Adélia - O poder humanizador da poesia

Lírica, biblíca e existencial (Segundo Drummond de Andrade). Professora por formação, Adélia, é para mim, inspiração.

Uma reflexão por Adélia Prado sobre o poder humanizador da poesia

Se não tiver poesia, não é cinema, não é teatro, não é pintura... A obra verdadeira é sempre nova. Não cansa porque traz em si mesma e apesar de si mesma, algo que não lhe pertence, nem ao seu autor, mas que vem da beleza que revela o 'ser das coisas' inapreensível.

A arte nos remete à beleza suprema se estivermos despidos do orgulho da razão e da lógica.

A arte é para a inteligência do coração, para o sentimento. Assim, toda obra de arte é um espelho porque faz que eu me reconheça nela. A arte nos alimenta porque dá sentido a nossa existência: Nós começamos e acabamos, mas a obra não sofre esse desgaste. Ela está fora do tempo, está inteira, por esta razão nos alimenta de transcedência - algo que diz que sou mais do que o corpo e as coisas quantitativas. Você aquilo que está presente no seu desejo, no seu sentimento, na sua alma.

Quando procuramos a arte, procuramos o divino - aquilo que não tem peso, medida, cor...

Só o homem pode se comover com a beleza que se esconde e se revela nas coisas.

Qual é o papel da obra de arte? Nenhum!

A beleza é experiência, e não, discurso.

A arte não aliena ninguém, ela traz para a realidade, para aquilo que eu sou quando estou comigo mesmo.

Fome de beleza é universal. Todo mundo entende o que é beleza. Por que elitizamos tanto isso?

Beleza não é luxo, é necessidade!!!!

As vezes o ato heróico da nossa vida é o mais anônimo.





Casamento


Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva.

Nenhum comentário: